quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Encontro com a MPB

Hoje aconteceu o último encontro do mini curso sobre Música Popular Brasileira, do qual participei na faculdade...

Foram aproximadamente 2 meses conhecendo um pouco mais sobre a cultura do nosso país já que, como o condutor dos encontros, Lauro Meller, sempre lembrava: é impossível estudar música popular sem estudar o contexto histórico. Sem conhecer os bastidores do processo.
Adorei a oportunidade! São raras ocasiões assim, pois geralmente a vertente que se estuda em cursos superiores de música é a erudita européia.

Pelo o que sei, especialmente na fase anterior ao advento da gravação, muita produção foi perdida. Algumas obras eruditas foram preservadas através de partituras... mas onde estarão as obras populares? Possivelmente muitas morreram com nossos ancestrais.

Comentarei aqui um pouquinho do conteúdo do curso:
Começamos falando sobre o registro das primeiras composições brasileiras. Refiro-me às Modinhas do Brasil, compostas por Domingos Caldas Barbosa. Para quem não conhece, eram composições bem curtas, geralmente com temas de desilusão amorosa, com ou sem humor. Tinha tanto uma vertente aristrocrática, quanto uma mais popular. Nesta mesma época, tínhamos a lundu (espécie de dança afro-brasileiro na qual dava-se uma "umbigada").
Comentamos também sobre a "febre" de piano ocorrida após chegada da Família Real ao Brasil. A cidade do RJ logo recebeu o apelido de "pianópolis". Foi nessa época que surgiram nomes como Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth.
Pouco depois nascia o "choro". Era um gênero instrumental originado da classe média, que inicialmente enfatizava solistas de instrumentos de sopro, principalmente a flauta. O gênero foi finalmente definido por Pixinguinha. E seu maior diferencial era o improviso.
Os próximos encontros falaram sobre o samba. Conhecemos um pouco mais sobre a vida e o estilo de sambistas como Cartola e Noel Rosa. O forte de Noel eram as crônicas sobre o cotidiano, muitas vezes com humor e ironia. Cartola, por sua vez, com uma vida difícil, vendia sambas para grandes cantores, mas só gravou seu primeiro disco aos 65 anos.

Falamos um pouco sobre a escola do violão, sobre a música caipira de raiz (que não se prendem a determinado espaço cronológico) e chegamos na "Era do Rádio", caracterizada por arranjos elaborados e temas de desilusão amorosa.
Sobre essa fase é interessante observar que quase toda apresentação musical era ao vivo (diferente de hoje, quando um simples 'clique' coloca a gravação no ar) e contavam com uma incrível infra-estrutura das emissoras. Algumas mantinham orquestras inteiras e espaços para programas de auditório. Como nessa época (até 1927) as gravações eram mecânicas, os cantores profissionais tinham vozes potentes, com destaque para Vicente Celestino.
O surgimento do microfone, de certa forma, democratizou o canto. Foi após esse período que nasceu a Bossa Nova. Era um momento de grande ruptura estética, tanto no que tange a interpretação, quanto os temas.

Antes de continuarmos a falar sobre a Bossa, é importante nos lembrarmos de expoentes da música que estão fora do eixo RIO-SP, a exemplo de Luiz Gonzaga (criador do bailão), Jackson do Pandeiro (o rei do rítmo) e Dorival Caymmi, com suas canções praieiras.
Voltando à Bossa Nova, era um movimento de jovens universitários (classe média). Buscavam uma nova forma de tocar o samba. Trata-se de um gênero muito preocupado com a harmonia, sendo composto por harmonia + batida + letra. João Gilberto, Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Roberto Menescal, Carlos Lira e Nara Leão (que era uma das musas do estilo) são os principais destaques.
Vimos, na continuidade, a rivaliade entre as canções engajadas da "Era dos festivais", e a "Jovem Guarda". Em plena ditadura, os adeptos do primeiro estilo acusavam estes de alienados.
Caetano Veloso e Gilberto Gil foram dois dos principais responsáveis pela unificação dos estilos rivais ao introduzirem a "Tropicália". Esse movimento mesclou manifestações tradicionais da cultura brasileira com inovações estéticas radicais. Abriu fronteiras e rompeu hierarquias.
Passeamos também pelo "Clube da Esquina", com sua poética do movimento... do deslocamento. Em todas suas canções, há a sensação de deslocamento, de fuga. Fazem da música uma obra de arte, sem, entretanto, perder seu valor político (subtendido). Fizeram muito uso de metáforas e trouxeram uma significativa variedade musical. Têm certa afinidade com a identidade latino americana. Um grande expoente desse grupo é Milton Nascimento.
E, ao final, conversamos sobre Chico Buarque, que, vindo de uma família de intelectuais, também ditou tendências. Embora seja sambista, não se prendia a clichês, promovendo uma grande variedade dentro do gênero e uma originalidade inusitada. Dentre suas vertentes destacamos o "eu lírico femino", o "engajamento", a "originalidade" e o humor das crônicas cotidianas. Dizem as más línguas que "ele funciona sob repressão", já que grandes de suas obras foram compostas na época da ditadura militar no Brasil.
Todas essas informações (e muitas outras) foram acompanhadas por demonstrações em áudio e vídeo, apresentados no auditório da PUC MINAS.
Lauro Meeler, quem ministrou o curso, apresentou sua dissertação de mestrado sobre o tema Tropicália Panis et Circensis e Sgt. Pepper, dos Beatles e nos disponibilizou diversos materiais. Se alguém estiver interessado, posso encaminhar.

Ele adiantou, inclusive, que já existem planos para um novo mini curso no próximo semestre. A proposta inicial é "História do Rock e Indústria Cultural: reflexões", que conheceremos desde as suas raízes, no blues, chegando até a década de 1970.

Quem estiver em BH na época, vale a pena conferir. Geralmente os encontros acontecem no intervalo do almoço (com duração de 1 hora) duas vezes por semana, são abertos ao público e dão direito a certificado.

Um comentário:

M J disse...

Sabrina, fiquei feliz demais em ver seu comentário sobre meu curso de MPB. Missão cumprida: agora você é multiplicadora dessas informações. Abs lítero-musicais do Lauro.