terça-feira, 30 de outubro de 2007

Poema do Breve Exílio - Alziro Zarur*

"Quem foi que disse
que me conhece?
Certamente foi alguém
que também não se conhece.
Meu passo é lento
e, entretanto, eu sou veloz
como um pássaro na altura.
Meu olhar é restrito
e, entretanto, eu vejo além
de planetas e de estrelas,
como um telescópio vivo.
Tenho saudade da Pátria Etérea,
porque lá é que eu sou Eu,
sem chumbo nos pés,
sem areia nos olhos.
Estou aqui de passagem,
por pouco tempo,
e ninguém sabe.
Quem foi que disse
que me conhece?

Irmãos,
eu vos estranho,
e até me estranho entre vós.
Sabeis quem sou?
É claro que não sabeis.
Tão cedo não sabereis
nem, ao menos, quem sois vós.
Vossa terra é grosseira,
vosso corpo é um sudário.
Como é que podeis amar
o vosso amor de excrescências?
Pois não conheceis o Amor,
sem calos nas mãos,
sem espinhas no rosto,
sem dentes cariados,
sem nervos nem ciúmes,
sem palavras de mau hálito.
Um dia,
conhecereis o Amor
sem moléstias venéreas.

Quem foi que disse
que me conhece?
Nem meu pai,
nem minha mãe,
nem meus irmãos,
nem parentes nem vizinhos,
nem psicólogos de esquina.
Talvez Alguém
de outros tempos,
de outras esferas
do Espaço Infinito,
talvez.

Estou exilado entre vós,
até um dia,
que só Deus sabe.
Estou aqui de passagem,
por pouco tempo,
e ninguém sabe.
Quem foi que disse
que me conhece?
Nem eu me conheço mais,
na vossa terra grosseira,
eu que tenho 2000 anos
já feitos e bem vividos.

Estas não são minhas faces,
não são estas minhas mãos,
meu corpo não é assim.
Eu me lembro
do que sou na realidade,
não é nada disto aqui
que vós todos abraçais.
Nem minha voz é a voz
que o microfone transmite,
em ondas curtas e médias.
Quem foi que disse
que me conhece?
E a quem poderei amar?
Vosso amor é algo torpe,
algo grotesco,
não é Amor.

Ah! Agora me lembro bem
que desci por pouco tempo,
exilado na missão
de vos dizer algo mais
da Pátria Étérea que habito.
Alegrai-vos, irmãos puros,
porque vos conduzirão
à Terra da Promissão,
que Deus fez só para os bons.
Mas, até lá, eu me estranho,
e não me conheço mais,
eu que tenho 2000 anos
já feitos e bem vividos.

Quem foi que disse
que me conhece?
Certamente foi alguém
que também não se conhece."


(Esse poema encontra-se na página 287 do Livro de Deus - A Saga de Alziro Zarur, escrito por Paiva Netto)


* Alziro Abrahão Elias David Zarur (19141979) foi jornalista, radialista, poeta e escritor. Participou da chamada "Era de Ouro" do rádio brasileiro.
Possuía uma voz impressionante, além de inteligência e conhecimento que lhe permitiram grande destaque. Em
1949, estreou um programa religioso na Rádio Globo, gênero que não havia praticado até então.
Em
1950, fundou a Legião da Boa Vontade (LBV), com objetivos de promover o diálogo inter-religioso.
O que eu digo sobre ele?
Ah... com certeza um homem muito à frente do seu tempo...

TBV

Nesse final de semana estive em Brasília e não posso deixar de registrar minha viagem...

Fui ao Templo da Boa Vontade. Para quem ainda não conhece, farei uma breve descrição:
Trata-se de um local místico, composto por ambientes que transformam-no em um complexo cultural, artístico, religioso, que não perde sua principal função: ser um espaço destinado à meditação e ao recolhimento. Por isso, é também conhecido como Templo do Ecumenismo Irrestrito.
Suas portas estão abertas dia e noite, ininterruptamente e, segundo dados da Secretaria de Turismo, é o monumento mais visitado da capital federal. Anualmente, mais de um milhão de peregrinos e turistas do país e do exterior passam pelo local.

Eu, particulamente, tenho um fascínio especial pela Sala Egípcia...





... e pela Nave (interior da pirâmide de 7 faces, cujo topo abriga uma pedra de cristal puro, com aproximadamente 21 quilos).
Todos os anos vou até lá renovar minhas energias. É mágico! É único! E é de todos nós!
Tenho boas lembranças de lá... Momentos que ficaram profundamente registrados em minha alma. Mas isso fica para outro post ;)
Para quem quiser saber mais ou fazer uma visitinha virtual, pode acessar o site oficial: www.tbv.com.br
Vale a pena!

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Entrelinhas

Há pessoas que entram em nossa vida de tal maneira que nossos destinos são mudados drasticamente...

Talvez nunca mais sejamos os mesmos. Talvez não queiramos mais sermos os mesmos.

As que conseguem acrescentar algo de bom, serão sempre lembradas com carinho. E, por mais distantes que por algum motivam estejam, nossos corações vibrarão numa frequência especial quando simplesmente pensarmos nelas, pois é como se conosco trouxéssemos parte de sua essência...

O reencontro com essas pessoas? Nem precisa descrever, né?

A você, que de alguma forma faz diferença em minha vida, o meu muito obrigado.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Aborto? Como assim?


Hoje realizamos uma enquete no Campus da universidade. "Você é contra ou a favor à legalização do aborto? Por que?", era a pergunta.
Acima da opinião contrária ou não, o que mais impressionou foi a desinformação quanto a um assunto que afeta diretamente a vida de tantas mulheres e bebês.
Muitos defendiam a legalização do ato única e exclusivamente em caso de gravidez por estupro ou de má formação do feto. (Mas isso já não consta na legislação brasileira?)
Vamos, pois, tentar esclarecer: "A legislação brasileira relativa ao aborto já tem alguns pontos estabelecidos. Atualmente o procedimento é permitido em duas situações: risco de vida para a mãe e gravidez resultante de estupro. Uma terceira possibilidade se refere a casos de anomalias fetais incompatíveis com a vida. Podendo esta, contudo, ser realizada apenas após a expedição de um alvará judicial autorizando a mulher a interromper a gravidez.
Para qualquer outra circunstância o aborto é considerado crime".
(GUILHEM D. 2004. Aborto: legalidade, moralidades, dignidade. Secretaria de Comunicação - SECOM - UNB Disponível em http://www.secom.unb.br/artigos/at0404-01.htm , acesso em 25/10/2007)

É a última questão, portanto, o foco do debate. O aborto deve ser legalizado nessas “outras circunstâncias”?

O problema é que as pessoas até sabem que existe a discussão, mas não sabem o que exatamente está se discutindo. E isso se agrava quando, por exemplo, essas mesmas pessoas são chamadas a decidir o futuro do país em um plebiscito ou em uma eleição. Fazem suas escolhas irrefletidamente, embasadas apenas no senso comum.
De quem é a culpa? Erramos quando nos desinteressamos. Deveríamos iniciar uma busca pessoal e eterna pela compreensão do que acontece à nossa volta. Mas não somos os únicos culpados. Os veículos de comunicação e o Governo deveriam promover debates mais abrangentes (sobre diversos assuntos), ultrapassando as redomas do mundo intelectual, rumando às massas, para que, então, cada brasileiro tenha capacidade de (por si só) formular uma opinião.

Particularmente, sou contra a legalização desse ato. Um artigo denominado "O Direito Constitucional do Feto", escrito pelo jornalista Paiva Netto, expressa bem o que penso a respeito. Quem quiser, pode acessá-lo pelo link http://www.paivanetto.com.br/interno/interno.php?sp=144106&ci=1&cs=3.
Que a sociedade saiba identificar o melhor caminho...

E você? Já pensou sobre o assunto?

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

O que aconteceu mesmo?

Nesta semana estávamos exercitando a escrita de crônica na faculdade (Só para lembrar, crônica é um gênero literário produzido para ser veiculado na imprensa. Provavelmente é o estilo que mais aproxima jornalismo e literatura, e nada mais é do que um comentário breve sobre algum fato).

Deveríamos nos inspirar em alguma nota recentemente veículada no jornal. Tema? Violência.

A minha noticiava um assassinato ocorrido em Montes Claros/Norte de Minas. Ainda não se sabia o motivo do crime, mas o jovem havia levado 5 tiros nas costas quando saía de uma mesa de bar com a namorada. Os assassinos (dois homens que fugiram de moto) ainda não haviam sido identificados.

Foi quando "caiu a ficha": Aquilo havia acontecido de verdade!!
O que para mim e meus colegas era um tema para a crônica, havia ocorrido de verdade! Com pessoas como eu, como você!

Quem era esse jovem? Como era? Do que gostava? Como estariam os familiares agora? A namorada? O que deveria estar sentindo?
Meu coração sentiu um vazio enorme pela falta de respostas...

Quantas vezes vemos acontecimentos como esse sem nos darmos conta de que poderiam ter sido conosco? E o que estaríamos sentindo agora se assim fosse?
Acostumamo-nos a ver as pessoas como números. "Morreram 10!" " 50 foram atingidos!"
Elas não são números nem estatísticas... são seres humanos! Têm uma história!

Isso me faz lembrar de um conto sobre o qual fiquei refletindo por um bom tempo...
Transcreverei a seguir:



Uma Vela para Dario
Dalton Trevisan



Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo e, assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, encostando-se à parede de uma casa. Por ela escorregando, sentou-se na calçada, ainda úmida de chuva, e descansou na pedra o cachimbo.
Dois ou três passantes rodearam-no e indagaram se não se sentia bem. Dario abriu a boca, moveu os lábios, não se ouviu resposta. O senhor gordo, de branco, sugeriu que devia sofrer de ataque.
Ele reclinou-se mais um pouco, estendido agora na calçada, e o cachimbo tinha apagado. O rapaz de bigode pediu aos outros que se afastassem e o deixassem respirar. Abriu-lhe o paletó, o colarinho, a gravata e a cinta. Quando lhe retiraram os sapatos, Dario roncou feio e bolhas de espuma surgiram no canto da boca.
Cada pessoa que chegava erguia-se na ponta dos pés, embora não o pudesse ver. Os moradores da rua conversavam de uma porta à outra, as crianças foram despertadas e de pijama acudiram à janela. O senhor gordo repetia que Dario sentara-se na calçada, soprando ainda a fumaça do cachimbo e encostando o guarda-chuva na parede. Mas não se via guarda-chuva ou cachimbo ao seu lado.
A velhinha de cabeça grisalha gritou que ele estava morrendo. Um grupo o arrastou para o táxi da esquina. Já no carro a metade do corpo, protestou o motorista: quem pagaria a corrida? Concordaram chamar a ambulância. Dario conduzido de volta e recostado á parede - não tinha os sapatos nem o alfinete de pérola na gravata.
Alguém informou da farmácia na outra rua. Não carregaram Dario além da esquina; a farmácia no fim do quarteirão e, além do mais, muito pesado. Foi largado na porta de uma peixaria. Enxame de moscas lhe cobriu o rosto, sem que fizesse um gesto para espantá-las.
Ocupado o café próximo pelas pessoas que vieram apreciar o incidente e, agora, comendo e bebendo, gozavam as delicias da noite. Dario ficou torto como o deixaram, no degrau da peixaria, sem o relógio de pulso.
Um terceiro sugeriu que lhe examinassem os papéis, retirados - com vários objetos - de seus bolsos e alinhados sobre a camisa branca. Ficaram sabendo do nome, idade; sinal de nascença. O endereço na carteira era de outra cidade.
Registrou-se correria de mais de duzentos curiosos que, a essa hora, ocupavam toda a rua e as calçadas: era a polícia. O carro negro investiu a multidão. Várias pessoas tropeçaram no corpo de Dario, que foi pisoteado dezessete vezes.
O guarda aproximou-se do cadáver e não pôde identificá-lo — os bolsos vazios. Restava a aliança de ouro na mão esquerda, que ele próprio quando vivo - só podia destacar umedecida com sabonete. Ficou decidido que o caso era com o rabecão.
A última boca repetiu — Ele morreu, ele morreu. A gente começou a se dispersar. Dario levara duas horas para morrer, ninguém acreditou que estivesse no fim. Agora, aos que podiam vê-lo, tinha todo o ar de um defunto.
Um senhor piedoso despiu o paletó de Dario para lhe sustentar a cabeça. Cruzou as suas mãos no peito. Não pôde fechar os olhos nem a boca, onde a espuma tinha desaparecido. Apenas um homem morto e a multidão se espalhou, as mesas do café ficaram vazias. Na janela alguns moradores com almofadas para descansar os cotovelos.
Um menino de cor e descalço veio com uma vela, que acendeu ao lado do cadáver. Parecia morto há muitos anos, quase o retrato de um morto desbotado pela chuva.
Fecharam-se uma a uma as janelas e, três horas depois, lá estava Dario à espera do rabecão. A cabeça agora na pedra, sem o paletó, e o dedo sem a aliança. A vela tinha queimado até a metade e apagou-se às primeiras gotas da chuva, que voltava a cair.

(Texto extraído do livro "Vinte Contos Menores", Editora Record – Rio de Janeiro, 1979, pág.20.
Este texto faz parte dos 100 melhores contos brasileiros do século, seleção de Ítalo Moriconi para a Editora Objetiva.)



Até quando suportaremos a indiferença, a insensibilidade, a reificação, ou, o que talvez seja pior, a espetacularização da tragédia?

Pensemos nisso...

VICE-PREFEITO FALA SOBRE CORRUPÇÃO NA POLÍTICA


Por Sabrina Martins


O vice-prefeito de Belo Horizonte, Ronaldo Vasconcellos (PV), fez duras críticas ao atual sistema político brasileiro, durante encontro com estudantes de jornalismo da PUC Minas, no último dia 28, sexta-feira.

Perguntado se já havia sofrido alguma tentativa de suborno, Ronaldo (foto)demonstrou quão comum se tornou esse tipo de prática ao alegar que já foi abordado algumas vezes, inclusive no dia anterior à palestra. Confirmou a existência de muitos políticos desonestos, mentirosos, preguiçosos e descompromissados com quaisquer causas, fazendo do mandato público apenas mais uma fonte de renda. Ainda segundo o ex-deputado federal, é preciso ter “jogo de cintura” para conviver em um meio tão dividido.

O vice-prefeito, que também é apresentador do Programa Ecologia e Cidadania (pelo Canal 13 e pela Band News FM), alega que a sociedade desinformada e pouco participativa, ao eleger representantes sem idéias claras ou projetos concretos, é uma das responsáveis pelo agravamento da situação. Outro fator, determinante segundo ele, é a “multipartidarização” ocorrida nos últimos anos, que tem permitido a entrada de pessoas cada vez mais leigas na máquina pública, com pouco ou nenhum valor moral, filiadas a partidos cada vez menos estruturados e com objetivos vagos. Ronaldo Vasconcellos defende uma redução drástica no número de partidos e um investimento maior na formação de lideranças e discussões temáticas entre os membros partidários.

Sobre o caso Renan, o vice-prefeito se posicionou favorável ao fim do voto secreto, mas não se manifestou claramente em relação à absolvição do senador. Na ocasião, Ronaldo anunciou, ainda, sua intenção de candidatura à prefeitura de Belo Horizonte nas eleições de 2008.


(Minha primeira matéria escrita na faculdade - set/2007)

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Para alguém especial...



Hoje é aniversário de uma pessoa muito especial para mim.
Infelizmente ela está longe agora, mas se por ventura visitar meu blog, saberá que não a esqueci.
Sempre temos alguém com quem podemos contar, rir ou chorar, falar de nós, filosofar sobre a vida... Essa pessoa (que sabe bem de quem falo) é uma delas.
A você, que há 6 anos entrou em minha vida trazendo uma certa magia, meu muito obrigado por fazer tanta diferença!!!
Que Deus esteja em você!
E... um feliz aniversário!!!

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Por que ter um blog?



Na verdade nunca tive vontade de criar um blog ou site pessoal.
As coisas começaram a mudar depois que assisti a uma palestra na faculdade...
O tema era "Política e comunicação: democratização dos meios", com a participação do Editor da Revista Fórum, Renato Rovai e do Secretário Geral do Fórum Nacional de Democratização da Comunicação (FNDC), José Guilherme.
Falou-se da "nova era" aberta pelo advento da internet, da importância da diversidade informativa que ela propicia, com diferentes abordagens, e defendeu-se a comunicação como um direito humano.
Entretanto, o que mais me marcou e trouxe a idéia do blog foi uma das falas de Renato (da foto). Ele disse mais ou menos isso:

"Façam a diferença. Nunca como agora tivemos a oportunidade de nos tornamos mais do que simples espectadores. Podemos ser produtores de Comunicação. A internet propicia isso. O mundo não é estático, para ser assistido. Nós o construimos. Portanto, movam-se e assumam a responsabilidade! Vocês, estudantes de Comunicação (reforço que a palestra aconteceu para alunos da PUC-MINAS), têm por obrigação oferecer conteúdo diversificado e de qualidade. Usem todas as ferramentas disponíveis para isso."

Muita gente já entendeu isso, inclusive grandes profissionais do jornalismo. Como aspirante a jornalista, tentarei fazer isso nesse espaço. Quero disponibilizar aqui não só a diversidade de conhecimento a qual tiver acesso na academia, mas compartilhar também situações e questionamentos pelos quais vier a passar como uma jovem a descobrir o mundo. Afinal, somos humanos! Uma mistura de razão e emoção que dá um tempero especial à vida!
Quem sabe um dia conseguiremos "fazer a diferença"?