segunda-feira, 6 de junho de 2011

Atenção redobrada no crepúsculo


"Certa vez um homem encaminhou-se para o quintal de sua casa durante o crepúsculo. De repente, num canto escuro, viu uma serpente enrolada. Assustado, gritou: 'Uma cobra! Uma cobra!' Sua voz chegou até várias pessoas que vieram correndo com pedaços de pau. Avançaram lentamente em direção ao canto escuro e um deles, mais afoito, armado de um galho comprido e afilado, deu uma estocada na serpente. Nada aconteceu.
Nisto chegou um velho com uma lanterna. Levou a lanterna próxima ao canto onde estava a serpente. A luz nada revelou a não ser uma corda enrolada. O velho deu uma risada: 'Olhem só vocês, gente cega tateando no escuro. Não há nada ali a não ser uma corda e vocês a tomaram por uma serpente.'

Para compreender a corda como uma corda, foi necessária a luz. Nós, também, necessitamos de uma luz - a luz da sabedoria (jnana). Com tal luz, o mundo não será mais um mundo e todas as qualidades que chamamos o não-Eu surgirão em sua verdadeira natureza.
Podemos usar essa analogia para também comprender outra questão. O crepúsculo é a hora mais perigosa. Por quê? Porque na escuridão total nem a corda nem a serpente poderiam ser vistas. À luz clara do dia a corda seria obviamente uma corda. Somente na semi-escuridão poderia o homem tomar por engano uma corda como sendo uma serpente. Se for um ignorante completo, tateando na escuridão, você nem mesmo verá a 'corda'- as penas deste mundo - e desejará compreender a verdade. Assim, Yoga nem se destina à pessoa que já obteve a luz nem à pessoa totalmente ignorante que não se incomoda em saber coisa alguma. Destina-se àquela que está entre ambas. É para dissipar esta ignorância que o Yoga é praticado."

Texto extraído de "Os sutras do Yoga de Patanjali", com tradução e comentários de Sri Swami Satchidananda.