terça-feira, 6 de novembro de 2007

"Corações Sujos"

Ontem terminei a leitura de Corações Sujos, um livro-reportagem, vencedor do Prêmio Jabuti de obra não-ficção do ano de 2001, escrito pelo jornalista Fernando Morais.

Ao fechá-lo me perguntei: Quantos fragmentos (importantes!) da história ignoramos? Até tomar conhecimento da obra, eu não imaginava a dimensão das lutas dentro da comunidade japonesa no Brasil ao final da II Guerra Mundial e sei que provavelmente poucas pessoas conhecem ou conhecerão algum dia.
O fato é que as pesquisas feitas pelo Fernando resgataram parte de uma realidade que, embora bem próxima (aqui no Brasil mesmo, em meados do século XX), infelizmente é desconhecida pela maioria de nós.

Você sabia, por exemplo, que o Brasil já teve um campo de Concentração? (Engana-se quem pensa que isso é exclusividade da Alemanha)
Sabia que os japoneses sofreram grandes humilhações, preconceitos e perseguições no Brasil quando nosso país cortou relações com os três países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), sendo seus súditos proibidos de possuirem rádio, carro, dinheiro e até mesmo falar em japonês?
Você sabia que, pela extrema devoção à nação e ao imperador (que segundo a crença é um ser divino, portanto invencível), grande parte da comunidade japonesa se recusou a acreditar na derrota de seu país, criando versões inacreditáveis para o desfecho da guerra?
Pois é... os japoneses que admitiam publicamente a rendição eram chamados de derrotistas e considerados traidores, tendo suas cabeças colocadas a prêmio. Muitos perderam a vida nas mãos de seus compatriotas. Na época, instalou-se em nosso país uma disputa civil que terminou com um saldo de 23 derrotistas mortos, 147 feridos, 31 mil pessoas presas, 381 denunciadas e 80 expulsas do Brasil.

A reunião desses registros foi resultado de uma grande reportagem, mas imaginem quantas histórias ainda por desvendar?! Quantas versões a se questionar?! Quantos fatos esperando por apuração e divulgação?! Não pense que é o único a conhecer apenas míseras frações da realidade. De certa forma somos condicionados a isso... As escolas se conformam em transmitir o superficial, comentando, por exemplo, situações vividas lá fora, sem, entretanto, aterem-se a detalhes importantes para nossa pátria.
Eu, sinceramente, acredito que essa situação pode mudar. Existem pessoas que lutam por isso... façamos nós, também, a nossa parte.

Quem se interessar pela cultura e pela trajetória dos imigrantes japoneses no Brasil deve ler o livro ao qual me refiro. É de fácil compreensão, traz muitas fotos e documentos históricos e é fácil de encontrar... Bibliotecas públicas, por exemplo, normalmente possuem mais de um exemplar.

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