segunda-feira, 29 de junho de 2009

Hoje voltei para a casa ouvindo a programação da CBN. Tenho o costume de acompanhar a emissora, mas normalmente ouço na parte da manhã. Gosto muito do jornalismo deles. Hoje, por mudança de horário, escutei na hora do almoço, mas me senti de outro planeta.

Primeiro, um quadro de culinária. Até aí, tudo normal. Viviane Zandonadi falou do livro “A morte do gourmet” e indicou um restaurante em SP, especializado em comida “pantaneira”, com peixes e frutas típicos dessa região do nosso país. O preço, como era de se imaginar, um pouco “salgado”: Média de R$ 60,00 por pessoa.

Depois, outra participação. Desta vez, a nova comentarista falava diretamente do Chile, onde estava como convidada para participar de um “congresso para famílias ricas” (foi o que entendi da explicação). Ela contava como eram interessantes os temas abordados no Congresso (como gerir o patrimônio, importância de um bom relacionamento caso as famílias queiram manter sua riqueza e por aí vai) e parecia entusiasmada com tantos nomes e palestras importantes. Eu só senti falta de um tema para discussão: “Enquanto sou treinado administrar bem o lucro que consigo, geralmente explorando o trabalho de outras pessoas, de forma a manter todo o dinheiro na mão da minha família, mais de 1 bilhão de pessoas no mundo passa fome".

Para finalizar minha curta viagem de ônibus (40 minutos) ouvindo a CBN, um quadro que falava sobre vinhos ou coisa do tipo. Só me lembro que o comentarista, que se referia à sua última estadia em Portugal, falava sobre vinhos, melhores uvas para os vinhos e se eles combinam ou não com salmão ou com a sardinha que ele viu em Portugal.

Talvez esses temas realmente façam parte e sejam corriqueiros na vida do público elitizado da CBN, mas só me fizeram refletir sobre o abismo financeiro (claro!) e cultural que existe entre ricos e pobres.

Enquanto para um rico 60 reais é uma quantia irrelevante para se gastar numa refeição, seja ela exótica, regional ou do dia a dia, com esse mesmo valor uma pessoa pobre se alimenta com um PF por 60 dias.

Enquanto a desestrutura das famílias é preocupação de assistentes sociais em todo o Brasil (crianças sem pais; crianças que se tornam pais e mães; bebês que são criados pela creche do bairro, quando não muito ficam sozinhos em casa com irmãos mais velhos, também crianças, para a mãe poder trabalhar; ou mesmo jovens e crianças que deixam o estudo para ajudar no orçamento de casa), congressos ensinam aos ricos como devem se estruturar, caso queiram manter suas riquezas dentro da família.

E enquanto se discute no rádio a idade do vinho e com o que ele combina ou deixa de combinar, grande parte das famílias brasileiras toma suco de caju, já que no supermercado esse suco é bem mais barato do que o de uva.

Nada contra esses temas... na minha opinião, tudo é interessante. Mas, como disse, demonstram como as camadas da população vivem realidades completamente antagônicas no Brasil.

Estudo como bolsista em uma universidade particular e fico no meio dessas duas realidades. Enquanto colegas de classe média alta estão indecisos entre as férias na Europa, esquiar em Bariloche ou passar uma temporada em alguns dos parques de Orlando, sou abordada na rua por pais de família pedindo ajuda para voltar para o interior, após frustrante período na capital em busca de emprego e melhoria de vida. Em janeiro passado mesmo meu namorado tentou comprar passagem para uma pessoa nessa situação. Mas a empresa não aceitava cartão de crédito.


Que mundo é esse, meu Deus...
Onde poucos têm tanto e tantos não têm nada!
Ajude-me, oh Ser onisciente, onipotente e onipresente, a não me tornar indiferente à miséria do mundo, nem a possuir mais do que preciso.
Que o que tenho hoje e terei amanhã não seja conquistado com base na exploração alheia, nem seja motivo de vergonha ou culpa. Que seja fruto do meu esforço, mas que nenhum sucesso me faça esquecer do meu semelhante.
E que, se um dia eu for lembrada, seja como uma pessoa que acreditou e trabalhou por um mundo melhor e mais justo, por mais utópico que isso pareça ser nos tempos atuais.

2 comentários:

Joelmir Tavares disse...

Falou e disse, Sabrina. Olha que vivo também pendendo entre esses dois "mundos" - duas realidades tão distintas. E às vezes me cativam muito mais as pessoas do lado "desfavorecido", com seus problemas, mas com sua autenticidade, do que as pessoas do lado "rico", com seus diálogos ancorados em cifras e a empáfia que as impede de ver a necessidade de tantos que as rodeiam...

JOAO DINALDO KZAM GAMA disse...

Tenho as mesmas reações que vc Sabrina, as mesmas. Agora mesmo vai passar num programa de tv as pessoas ricas, as vezes as que ficaram repentinamente ricas. Tem um que de tão rico as roupas têm fios de ouro (absurdo). Fico pensando por que pessoas como essas (pouco mais de 260 pessoas no mundo detêm mais de 80% do PIB mundial, absurdo) não pensam assim: poxa vou melhorar a condição de vida de algumas pessoas, afinal o que eles tem é tanto que nem faria falta não é verdade? As vezes fico eu aqui nos meus sonhos de brasileiro "pobre" que se ganhar na loteria faria uma mudança na vida de algumas pessoas que nem sonham em melhorar de vida por que não dá pra sonhar na dificuldade, dá só pra ter pesadelo. Mas como tem uma oração que diz: se não puder ser uma chuva pra molhar a terra, que eu seja um copo de água para matar a sede de quem precisa. Faço algumas coisinhas, e acho até que nem significa nada por que não me prejudica ou toma nada da minha vida a não ser o tempo, por que pra fazer eu preciso de tempo, mas faço sempre alguma coisa, simples, mas que faz um pouco a diferença. Abraços, adorei os textos.