terça-feira, 19 de julho de 2011

Discurso de formatura da turma de jornalismo 1º/2011 - Puc Minas


Boa noite. É com grande satisfação que me apresento como oradora da turma de formandos em jornalismo 2011.1 da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, nesta data tão sugestiva: 14 de julho, marco da Tomada da Bastilha, na Revolução Francesa, e dia Mundial da Liberdade de Pensamento.

Obrigada pela presença de todos, professores, funcionários, pais e amigos, enfim, pessoas especiais, escolhidas para compartilhar conosco este momento tão significativo em nossas vidas.

Grande responsabilidade falar em nome dos colegas e traduzir em poucos minutos o sentimento de uma turma, mas quem mandou faltar no dia da eleição para definir o orador? (risos)

Como nesses quatro anos o que mais fizemos foi aprender a contar histórias, permitam-me relatar um pouco da nossa.

Quando estes jovens se encontraram há 4 anos, tinham um sonho em comum: Cada um, à sua maneira, queria fazer diferença na sociedade. Por isso escolhemos ser jornalistas. E, ao contrário do que muitos podem pensar, a profissão é bem diferente do glamour que ainda permeia o imaginário coletivo. A realidade não é fácil. Para se ter uma idéia, de acordo com a pesquisa de uma página de empregos norte-americana, as carreiras de repórter e de fotojornalista figuram entre as 5 profissões mais estressantes do mercado. Eh minha gente... Desde o primeiro período os professores nos alertaram que não seria uma profissão fácil.

Ser jornalista é correr contra o relógio, é estar antenado a tudo, o tempo todo, é trabalhar bastante, geralmente com um retorno financeiro aquém do merecido. Ser jornalista é não poder confirmar presença em muitos programas de fim de semana ou marcar viagens com antecedência, pois nunca se sabe se estará de plantão. É administrar dois empregos ou vários freelas. É se esquecer de como era boa a dobradinha no feriado de Natal e Ano Novo.

Mas o que podemos fazer? Jornalismo é uma profissão que se escolhe por idealismo. Somos jornalistas porque gostamos de histórias, de gente, de contar histórias dessa gente, e, principalmente, porque desejamos, por meio dos nossos relatos, servir ao bem comum. E então concluímos que se o retorno financeiro às vezes deixa a desejar, a sensação do dever cumprido é nossa maior motivação e a melhor recompensa. É por isso que permanecemos no curso e hoje estamos aqui, dispostos a dar o melhor de nós no manejo responsável de uma das armas mais poderosas do mundo hoje: a informação.

E estamos preparados. Não prontos, porque o conhecimento não cessa, mas com certeza mais seguros, críticos, menos ingênuos e bem mais conscientes do nosso papel e de como nosso trabalho pode impactar a vida das pessoas. Nesse sentido, acreditamos que mais importante do que o certificado (que, dizem as más línguas, pode ter perdido um pouco do prestígio após a decisão do Supremo de extinguir a exigência do nosso diploma) é a bagagem que recebemos na universidade. Duas Propostas de Emenda à Constituição tramitam atualmente no Congresso e no Senado com objetivo de tornar novamente obrigatório o diploma para o exercício do jornalismo, mas, independentemente do resultado, sabemos que o nosso diferencial é o conhecimento adquirido.

Conhecimento que recebemos ao longo desses oito semestres nas aulas de cunho humano, como filosofia, teorias sociais e ética, nos ensinando a valorizar o que o outro tem de diferente e a respeitar sua subjetividade; até as aulas mais técnicas, como apuração e redação, onde aprendemos que a “arte” de contar histórias sendo fiel aos fatos nunca será uma tarefa fácil. Ou Oficina de Leitura e Escrita, na qual descobrimos que, se bem dosados, jornalismo e literatura fazem uma combinação deliciosa. Passando também pela política, economia, cultura nos diferentes suportes da web, radio e telejornalismo.

Mas além das matérias, ficam os momentos, as experiências. Desde o primeiro dia, como calouros, o primeiro churrasco, a primeira ida ao bar do Geraldinho, a primeira matéria publicada no jornal Marco, o primeiro estágio... Logo cedo percebemos que a principal característica da nossa turma seria a heterogeneidade. Daqui sairão expoentes do jornalismo gonzo, críticos de moda, apaixonados por rádio, assessores de comunicação, pesquisadores, especialistas em futebol, em cinema, em música e até em pôquer. Uma poliglota que viaja o mundo como intérprete? A turma de jornalismo do 1º semestre de 2011 tem. Uma atriz? Também. Até dançarino nós tivemos, com direito a participação na “Dança dos Famosos”, como professor da atriz Katiuscia Canoro.

Mas como em toda diversidade também se revelam afinidades, surgiram os inevitáveis grupos. Alguns até com nome, como é o das “Peores”, “Redação da Contigo”, e o “Grupo dos irregulares”.

Hoje olhamos para trás e nos lembramos de tudo com um carinho nostálgico. Quanto cada um de nós mudou durante esse tempo... Naquele primeiro período, era difícil saber quem levava jeito para o jornalismo, quem ia dar certo. Alguns ficaram pelo caminho, outros chegaram. E muitos surpreenderam. Crescemos, caímos, levantamos, aprendemos. Por isso podemos dizer, com convicção, que independentemente da estrada que cada um de nós percorrer daqui em diante, temos tudo para realizar aquele sonho lá do início do discurso, ou da faculdade, que é deixar a nossa “marquinha” no mundo. E se o homem é lembrado por aquilo que faz, o jornalista ainda mais, pois deixa tudo registrado.

A nós, meus amigos, eu desejo garra, um boa dose de sorte e muito sucesso nesta nova etapa. Compartilho do pensamento de Goethe quando ele afirma que “quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma, todo o universo conspira a seu favor.” Um trabalho de muita responsabilidade nos aguarda, mas acredito que vamos corresponder à altura. Temos tudo para dar certo e, graças a Deus, uma grande torcida por nós.

Despeço-me com um poema que ouvimos bastante nas aulas de Circuitos Artísticos e Culturais, com o professor Ronaldo Boschi, lá no 1º período. Ele foi útil no início do curso e, tenho certeza, o será também agora.

"Elogio do Aprendizado”, de Bertold Brecht

Aprenda o mais simples!
Para aqueles cuja hora chegou,
Nunca é tarde demais!
Aprenda o ABC; não basta, mas aprenda!
Não desanime! Comece! É preciso saber tudo!
Você tem que assumir o comando!
Aprenda, homem no asilo!
Aprenda, homem na prisão!
Aprenda, mulher na cozinha!
Aprenda, ancião!
Você tem que assumir o comando!
Freqüente a escola, você que não tem casa!
Adquira conhecimento, você que sente frio!
Você que tem fome, agarre o livro: é uma arma.
Você tem que assumir o comando.
Não se envergonhe de perguntar, camarada!
Não se deixe convencer!
Veja com seus próprios olhos!
O que não sabe por conta própria, não sabe.
Verifique a conta. É você que vai pagar.
Ponha o dedo sobre cada item
Pergunte: o que é isso?
Você tem que assumir o comando.

Muito obrigada e boa noite a todos.


Sabrina Damasceno Martins

Belo Horizonte, 14 de julho de 2011.

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